quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Linguagem do corpo.

Aender Borba

Minha última visita à terra natal de meus pais (Tiros-MG), apesar de não ter sido por circunstâncias que gostaria, foi de grande proveito, pois tive a oportunidade de rever alguns primos e tios que há muito não os encontrava. Num desses encontros, passei algumas horas com minha prima Amanda, estudante de medicina da Faculdade Atenas (Paracatu-MG), como não poderia deixar de ser, falamos de saúde, saúde mental e um pouco sobre a vida...
Dessa conversa surgiu um tema muito interessante que me arrebatou durante as duas últimas semanas. Amanda mencionou um livro que eu ainda não tinha lido completamente, mas muitos dos meus professores comentaram sobre ele durante algumas aulas, principalmente a de Entrevista Psicológica: "O Corpo Fala" (Pierre Weil e Roland Tompakow). Esse é um tema polêmico, intrigante e  também muito discutido nos meios acadêmicos,  talvez por este  motivo mereceu que o canal de televisão FOX, numa tentativa de mostrar uma faceta estritamente científica da questão, lançasse no início de 2009 uma série chamada "Lie To Me", obviamente marcada pelo hollywoodismo típico americano, mas no geral, muito pertinente ao assunto. 

Interessante notar que existe um viés cientificista que pretende demarcar este território, entretanto, este é um campo em que  nem todas a respostas podem ser fornecidas à luz de um certo positivismo. Autores, como Weil, utilizam-se da semiótica nas civilizações antigas para explicar como uma comunicação reduzida simplesmente às palavras impossibilita que tudo que se pretende transmitir o seja.
A figura ao lado é utilizada no livro de Weil para mostrar que, segundo a tradição, cada parte da esfinge representa uma parte do físico do HOMEM e possui uma correspondência também psicológica. Essa correspondência psicológica não mudou muito até na psicologia moderna. VEJAM:
BOI = abdome = vida instintiva e vegetativa.
LEÃO = tórax = vida emocional.
ÁGUIA = parte da cabeça e asas = vida mental (intelectual e espiritual).
HOMEM = conjunto = consciência e domínio dos três inconscientes anteriores.

Para exemplificar, observe no pequeno roteiro, que segue, de formas simples de comunicação não-verbal que estão bastante próximas de nós, e que na maioria das vezes as negligenciamos. (Insisto que são apenas exemplos não universais de comportamentos e não devem ser entendidos indiscriminadamente ou fora de seu contexto).

1- Discrepâncias entre o que se diz e a linguagem corporal: dizer que "não" e balançar a cabeça para frente e para traz como se dissesse "sim".
2- Prover mais informações e especificidades do que a pergunta requeria.
3- Flutuações pouco usuais na forma de falar, na escolha das palavras e na estrutura das sentenças.
4- Um olhar quando é retribuído é um ótimo indício de que a outra pessoa está interessada.
5- Mulheres quando estão interessadas e percebem que você está olhando, começam a passar a mão nos cabelos ou lambem o lábio superior erguendo as sobrancelhas.
6- Apontar um dedo é sinal de que alguém quer afirmar sua autoridade ou ilustrar um fato.
7- Mãos juntas sobre o colo ou estômago é um sinal de proteção.
8- O gesto de esfregar o queixo é um sinal de que o ouvinte está tomando uma decisão.
9- Braços cruzados e mãos fechadas indicam uma atitude hostil e defensiva.
10- Pernas cruzadas podem indicar uma postura nervosa, reservada ou defensiva.
11- A pessoa que mente reluta em se defrontar com seu acusador e pode virar sua cabeça ou posicionar seu corpo para o lado errado.



12- etc, etc, etc...

Como psicólogo, acredito que a PALAVRA é a maior fonte de matéria-prima para guiar meu trabalho. Entretanto, depois dessa pequena pesquisa, passei a perceber que a LINGUAGEM possui mais recursos que eu imaginava.  Tão importante quanto "saber ler"  e compreender essa linguagem, são: o respeito aos limites éticos das interpretações, o contexto em que surgem e principalmente a permissão do outro para ser lido. Essa conduta deve  nortear a prática de todo bom profissional da psicologia. O inconsciente é um lugar que só pode ser acessado com a permissão absoluta do outro.